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4 de novembro de 2013

Segundo experimento: o fator recompensa

Artigo originalmente postado em Gestor FP.

O primeiro estudo avaliou a disposição dos participantes a sofrerem uma penalidade caso falhassem na abstinência para a realização do exame médico; o segundo estudo avaliou a disposição dos participantes em cumprir o teste recebendo uma bonificação, um prêmio, ao invés de uma multa. Esse experimento teve como objetivo verificar se o desconforto temporário de uma atividade provocaria esforços de autocontrole quando a falha para executar tal atividade ameaçaria a realização de uma importante meta de longo prazo.

Os participantes se ofereceram para um estudo de doenças no coração e, como parte desse estudo, teriam que realizar um teste cardiovascular. Esse teste foi descrito como podendo ter baixo ou alto grau de desconforto físico. Também foi dito aos participantes que, caso cumprissem o teste, receberiam um bônus por ter feito parte do estudo. A grande questão era se os participantes fariam com que a bonificação, o prêmio, se tornasse o motivo para completarem o teste.

Primeiro os participantes responderam um questionário para que pudessem definir a importância de avaliar e melhorar sua condição de saúde. Depois disso, o estudo foi conduzido para definir os participantes em dois grupos de controle: a condição de alto desconforto, em que os participantes foram informados que o teste cardiovascular consistia em uma hora de exercícios físicos pesados e a coleta de várias amostras de hormônios feitas através de uma enfermeira – coleta descrita como “muito dolorosa”; enquanto que na condição de baixo desconforto, o teste consistia de uma hora relaxante (como ler um jornal ou um livro enquanto estivessem deitados numa cama) sendo que a mesma coleta de hormônios seria feita por uma enfermeira, mas, nesse caso, nada foi informado sobre dor aos participantes dessa condição.

Os participantes desse experimento foram alunos da Universidade de Tel Aviv e, após receberem a informação sobre o teste cardiovascular, eles decidiriam se queriam receber seu bônus antes ou depois do teste ser concluído (o bônus, no caso, eram créditos extras em seus cursos). A decisão de receber o prêmio pós-teste fazia com que o bônus se tornasse um fator de contingência para estimular o autocontrole.


Daí os resultados:


Essas descobertas apoiam a teoria do CCT em que as pessoas exercem seu autocontrole ao decidir realizar uma atividade física desagradável SE essa atividade estiver relacionada às suas metas no longo prazo. O experimento demonstra que, sob condições específicas, as ​​pessoas estão dispostas a se submeterem à realização de um teste físico desagradável se tiver como contingente uma bonificação. Os participantes poderiam ganhar o bônus sem fazer o teste cardiovascular. No entanto, quando os resultados do teste tinham a característica subjetiva de ser importante, foi pedido para que a gratificação fosse condicionada à realização do teste (bonificação pós-teste), especialmente quando ele era considerado altamente desagradável. Ao se impor essa contingência, os participantes arriscaram perder o bônus, mas, ao mesmo tempo, também se motivaram a realizar o teste cardiovascular mais pesado.

Vale atentar que isso só foi verdade para os participantes que consideraram a sua saúde como algo importante. Os participantes que não consideraram sua saúde como algo valioso tenderam a escolher a aceitar o bônus antes do teste, especialmente quando o teste esperado poderia ser difícil (alto desconforto). O fato de que apenas os participantes a quem a saúde era importante expressa a preferência de receber o prêmio depois e sustenta a hipótese de que a contingência auto imposta foi usada como um meio para superar a tentação de desistir de um objetivo valioso a longo prazo.

Esse experimento podemos relacionar o risco dos investimentos com a importância da aposentadoria, por exemplo. Vemos, na prática, que as pessoas que dão importância à se planejarem e a cumprirem um planejamento para a aposentadoria e que têm o perfil de investimentos mais arrojados (conservador, nessa analogia, seria baixo desconforto e arrojado/agressivo seria alto desconforto, diante da volatilidade dos investimentos) o que se espera é que se tenha um retorno maior das aplicações, podendo, inclusive, aplicar dinheiro em ativos que necessitem de maturação: algumas ações ou mesmo no mercado imobiliário físico, por exemplo. Na ponta inversa, se o investidor for conservador (mesmo com o quesito importância elevado) ele aceita ter um retorno menor (o bônus) em troca de menor volatilidade.

São questões para se pensar, concordam?

No próximo post falaremos do terceiro experimento que trata do reforço da importância antes de se estabelecer o compromisso com alguma atividade/objetivo.

Até!

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